No Vale do Café, há restaurantes, hotéis e bons antiquários que valem uma escapada de fim de semana
VASSOURAS- Menos badalado que outros destinos para se curtir o inverno, como Campos de Jordão e Itaipava, o Vale do Café — região do Vale do Paraíba — ganha definição perfeita na palavra “bucólico”. No dicionário, o adjetivo tem outros sentidos além de “relativo à vida campestre”. Entre eles, “gracioso” e “puro”. Além do roteiro das fazendas cafeeiras históricas, o vale esconde bons restaurantes e antiquários. Seguindo uma estrada sinuosa em Engenheiro Paulo de Frontin, encontra-se o casarão da Vivenda Les 4 Saisons onde o chef holandês Jos Boomgaardt mistura ingredientes da gastronomia tailandesa e francesa. Em Vassouras, um recém-inaugurado resort tem percursos de arvorismo e quedas d’água canalizadas que formam piscinas de água natural. Em Paracambi, uma discreta loja vende móveis antigos de fazenda restaurados. Atrações que merecem uma visita durante uma escapada para a região: fuja cedo da cidade na sexta para começar o fim de semana com uma refeição aprazível.
Entre a sofisticação holandesa e a simplicidade italianaPara explorar bem o Vale do Café durante um fim de semana, é bom levar em conta o lema dos exagerados — “oito ou 80”. Isso por que a maioria das atrações está em distritos ou cidades diferentes. Nada muito distante. Quem gosta de dirigir pode seguir o mesmo roteiro que fizemos, parando nas melhores atrações de Paracambi, Engenheiro Paulo de Frontin, Vassouras, Valença e Barra do Piraí. Mas, se o desejo é ficar de pernas para o ar, basta eleger uma das cidades para curtir o fim de semana.
Vale começar por Engenheiro Paulo de Frontin, onde fica a Vivenda Les 4 Saisons “um restaurante que também é hotel”, definição do proprietário e chef holandês Jos Boomgaardt.
Ele só atende com reservas, portanto, mesmo os que saírem mais tarde do Rio podem degustar o menu com quatro serviços (R$ 145 por pessoa). O holandês foi dono dos restaurantes Les quatre saisons, em Zuidlaren, e de Beukenhof, em Oegstgeest, ambos laureados com uma estrela do Guia Michelin. Boomgaardt mistura ingredientes da cozinha tailandesa e da francesa. O menu é elaborado de acordo com as estações. Em nossa visita, o chef fez uma sopa de batatas com curry para a entrada; filé de dourado com aspargos ao molho thai como segundo prato e filé mignon com legumes e molho de tomate de prato principal. Como sobremesa, um sabayon — a versão francesa do zabaione — de vinho branco com caqui e sorvete de creme.
— Quem gosta muito de vinho já fica em um dos quartos próximos à mesa — brinca o cearense Cleiton Souto de Almeida, o cicerone do hotel.
São sete quartos amplos, decorados com esculturas e painéis trazidos da Tailândia, peças de bambu, telas produzidas por Boomgaardt e móveis antigos de madeira maciça. Não há televisão, nem frigobar ou sinal de celular. A proposta do Les 4 Saisons é mesmo proporcionar uma fuga da poluição sonora das grandes cidades — o mesmo motivo que levou os donos a parar ali. Em troca dos eletrônicos, os livros. À disposição dos hóspedes, há títulos de gastronomia, arte e literatura. Boomgaardt também dá oficinas de gastronomia (R$ 195) em que ensina três pratos de um menu.
Antes de invejar os móveis antigos reformados do Les 4 Saisons, passe no antiquário Kett, em Paracambi, no caminho para Engenheiro Paulo de Frontin. O dono, Nilson Santarém, é restaurador e compra e vende móveis das antigas fazendas da região e de Minas Gerais por preços melhores que nos antiquários cariocas. Almeida indica:
— Queria uma cristaleira, mas era caríssima. Comprei um armário e pedi para Nilson trocar as portas por vidros.
A 15 minutos do hotel, fica outro restaurante imperdível da região: o empório e bistrô Sacra Família. Fique atento ao endereço, pois não há placas indicando a localização da casinha de caboclo cor de barro.
Sob o comando do chef italiano Alessandro Bova, o bistrô tem cardápio simples mas delicioso. Há duas opções de massa caseira, talharim ou penne, e sete de molho. Por indicação do chef, fomos de talharim com abobrinha e camarão (R$ 31) — a qualidade da massa chama atenção na primeira garfada. Para a sobremesa, a crostata de morango (R$ 2,50 o pedaço) é uma opção mais leve que o tiramisù (R$ 9), outra especialidade da casa. Ao final da refeição, troque o cafezinho por uma dose do famoso licor de limoncello produzido na fazenda onde mora Alessandro, cortesia do italiano. Servido bem gelado, o licor é como uma caipirinha europeia para ser sorvida em poucos goles. Quem quiser pode levar para casa uma garrafa (R$ 28), à venda no empório da casa.
Lazer ao ar livre e visita ao cafezalDepois do roteiro gastronômico da sexta-feira, é bom queimar calorias no sábado. Por isso, acorde cedo e rume para Vassouras, onde foi inaugurado há menos de um ano o Vassouras Eco Resort. Infraestrutura não falta: academia, spa, cinema, boate, lan house, restaurante, bar e piscinas vão ocupar adultos e pequenos. E para fazer jus ao “eco” no nome, o hotel tem opções de lazer ao ar livre, com destaque para a tirolesa, o muro de escalada, os percursos de arvorismo e, principalmente, as cachoeiras que ficam a três quilômetros da sede. Uma dica é alugar uma bicicleta (R$ 20) e pegar a trilha.
Em terreno de uma fazenda histórica, as quedas d’água foram canalizadas com grandes estruturas de pedra, trabalho dos escravos, segundo conta o dono David Antunes, formando piscinas de água natural, bicas e cachoeiras menores. Apesar das intervenções humanas, a mata atlântica virgem dá a impressão de paraíso intocado. Uma boa é levar um lanche na bolsa, pois você não vai querer sair tão cedo dali — a não ser quando a tarde cair e o frio chegar. Aí é melhor pensar em seguir para outro programa. Que tal um café com bolo em outra fazenda histórica?
Ainda em Vassouras, a fazenda Santa Eufrásia, de 1830, é a única propriedade privada tombada pelo Iphan na região. Também é uma das poucas que ainda planta e realiza todos os processos de produção do café. Para agendar uma visita guiada (R$ 30 por pessoa), basta ligar para a proprietária, Elisabeth Dolson. A fazenda também volta ao circuito do Festival do Vale do Café em julho, após anos fechada para visitação.
O casarão não está em perfeito estado de conservação, mas o que faz valer a visita é a própria Beth. Ela recebe os visitantes com roupas de época e conta a história da fazenda como se narrasse a biografia da família. Um dos pontos de visitação, por exemplo, é a garagem onde fica o carro da tia Alzira, que garimpou os móveis e objetos históricos exibidos na sede.
— Quando tia Alzira chegava na cidade, todo mundo saía correndo. Ela era um perigo ao volante — brinca a guia, que mora ali.
Outras curiosidades históricas chamam atenção. Beth conta que o dono da propriedade, o barão Ezequiel de Araujo Padilha, construiu um açude. Para se divertir, importou uma gôndola de Veneza.
Ao final da visita, Beth oferece chá e o café da fazenda, acompanhado de quitutes feitos ali — bombocado, bolo de milho, biscoitos amanteigados e requeijão caseiro.
Dali, rume para Conservatória, distrito de Valença. Às 17h, aos sábados, começa o sarau histórico (R$ 30) do Hotel Fazenda Florença (faça reservas com antecedência). Trechos da história da região são encenados por funcionários e pelo proprietário da fazenda, Paulo Roberto dos Santos. A ideia é mais didática que dramática — e funciona. A cantora lírica Juliana Maia fecha os saraus cantando a capela músicas da época referida. De canto de olho, dá para ver mocinhas lacrimejando de emoção.
Depois, os visitantes são levados à sede, que já foi cenário de várias novelas globais, como “Escrava Isaura”, em 1976, e “Paraíso”, em 2009. Quem guia é o próprio Paulo Roberto, explicando a procedência e o uso dos objetos da casa. Alguns utilitários nos levam a pensar “por quê, afinal, foram extintos?”. Os bigodudos amantes de chá, por exemplo, vão invejar as xícaras com borda irregular, acompanhando o caimento do pêlos — para evitar sujá-los.
A fazenda também é uma boa opção de hospedagem, com boa infraestrutura. Há piscinas, quadras de futebol e tênis, trilhas para caminhada e duchas de água natural.
Um pit stop na Praça da PreguiçaO domingo começa na cama do hotel e acaba na Praça da Preguiça, em Piraí. Mas, antes de chegar lá, tem estrada pela frente.
O distrito de Ipiabas, em Barra do Piraí, fica no meio do caminho tanto para quem sai de Vassouras como de Conservatória. Com novos restaurantes e lojinhas, a região vale uma parada. A Muito Além do Jardim foi precursora neste movimento e está ali há 18 anos, produzindo almofadas, colchas e itens decorativos em patchwork. Tudo feito como um monumento à fofura, em forma de frutas, corações e flores.
A loja também tem louças com design exclusivo, produzidas em parceria com a cerâmica Luiz Salvador, de Itaipava. Sabonetes de café, para tirar odores da mão, aroma para ambientes e vinagre com ervas também são vendidos ali. Outro destaque são as colchas e mantas do projeto “Bordando o Vale do Café”, da ONG Amor Perfeito.
— Estamos resgatando a história da região e o bordado, que além de tudo gera renda para as artesãs — conta a presidente da ONG, Ana Lucia Moura.
Voltando para o Rio por outro caminho, a parada imperdível é em Piraí — que está pertinho da Rodovia Presidente Dutra. O Rei da Traíra, mais conhecido como Bar do Peixe, tem várias opções de pescados de água doce e é o único da cidade que figura no guia “Rio botequim”, escrito por Guilherme Studart.
— Lá você consegue provar peixes de água doce que dificilmente consegue encontrar no Rio. É uma casa tradicional, fundada em 1985 — diz Studart, que recomenda a moqueca de cascudo e a traíra sem espinhas.
Pedimos a traíra como tira-gosto. Quando o prato chegou à mesa, vimos que mais parecia a refeição principal que entrada. O peixe vem inteiro e dá para escolher o tamanho: pequeno, de 400 gramas a 500 gramas; médio, de 600 gramas a 800 gramas; e grande, de 1kg a 1,2 kg). A primeira opção, coberta de molho de camarão com catupiry (R$ 29,90) serve duas pessoas.
Como prato principal, resolvemos pedir a combinação que é tema de festival gastronômico na cidade: a tilápia com macadâmias (R$ 28,90, para uma pessoa). O Piraí Fest chega à décima edição em outubro deste ano e, indiretamente, criou uma cultura gastronômica no local. O próprio Bar do Peixe deu uma repaginada no visual e abandonou a cara de botequim.
Depois do almoço, descanse um tico na Praça da Preguiça, no Centro. Engana-se quem pensa que o nome surgiu por conta dos bancos à sombra das árvores. O lugar é point de bichos-preguiça. Com sorte, você consegue ver uma por lá antes de voltar para casa.
Festival em julho com piqueniqueAs fazendas históricas do Vale do Café se tornam palco de shows e concertos no 9 Festival do Vale do Café, entre 22 e 31 julho. A abertura do evento é dia 21, quinta-feira, com show gratuito da pianista Eudoxia de Barros, às 21h, na Igreja da Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Vassouras.
Outro destaque é a apresentação do Ballet do Theatro Municipal, no domingo, dia 24, às 19h, em Paracambi. O palco vai ser montado no jardim da Fábrica do Conhecimento. A orquestra sinfônica e o coro do Theatro Municipal vão tocar em frente à Igreja de São Benedito em Barra do Piraí, às 19h, no dia 25, segunda-feira. Presença tradicional no festival, Ivan Lins canta na Praça Barão de Campo Belo, às 21h, no dia 30 de julho, em Vassouras. Esses eventos são gratuitos.
Na programação das fazendas históricas, que é paga, a novidade é a Fazenda Santa Eufrásia — depois de alguns anos fechada, volta ao circuito. Lá, o violonista Turíbio Santos toca no jardim, às 11h, quinta-feira, dia 28. A proprietária Elisabeth Dolson programou um piquenique ao ar livre de boas-vindas. Chegue mais cedo.
No Hotel Fazenda Florença, o cravista Roberto de Regina se apresenta às 11h, no dia 31, domingo. Quem comprar o ingresso pode acompanhar às 9h a estreia do sarau histórico sobre o Barão de Guaraciaba — o único aristocrata negro no país (para apresentações em outras datas, agendar no hotel).
— Pouca gente sabe, mas o Barão de Guaraciaba foi escravo e conseguiu comprar a alforria. Mas era escravagista — conta o dono da fazenda, Paulo Roberto dos Santos.
SERVIÇO- COMO CHEGARDe carro: Do Rio a Vassouras são 115 km. Siga pela Rod. Presidente Dutra e pela RJ-127 (Paracambi-Vassouras). Pedágio: R$ 9,20 (Km 207).
ONDE FICAR- ENG PAULO DE FRONTINVivenda Les 4 Saisons: Diárias a R$ 345. Rua João Cordeiro da Costa e Silva 2.000, Graminha. Tel: (24) www.2463-2892. les4saisons.com.br
VASSOURASVassouras Eco Resort: Diárias a R$ 800 (pensão completa). Estrada Lacerda 665, Km 217. Tel: (21) 3497-9277. vassourasecoresort.com.br
VALENÇAHotel Fazenda Florença: Diárias a R$ 360. Estr. da Cachoeira 1.560, Conservatória.Tel: (24) $2438-0124. hotelfazendaflorenca.com.br
ONDE COMERBar do Peixe: De segunda a sábado, das 11h às 22h. Domingos, das 11h às 16h. Rua 15 de novembro 242, Centro, Piraí.Tel: (24) 2431-1610.
Empório Sacra Família: de quinta a sábado, de 9h às 22h; domingos, de 9h às 15h. Tel: (24) 2468-1496. Avenida Roger Malhardes 237, Engenheiro Paulo de Frontin.
COMPRAS E LAZERMuito Além do Jardim: Aos sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h. Rua Coronel Cristiano 525, Ipiabas, Barra do Piraí.Tel: (24) 2437-1234.
Fazenda Santa Eufrásia: Rodovia BR 393 Km 242, trecho Vassouras. Para agendar uma visita: (24) 9994-9494, com Beth.
Kett: de segunda a sábado, de 8h às 18h.Tel: (21) 3693-1723.Rodovia RJ-127 8537, Guarajuba, Paracambi.
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